domingo, 25 de novembro de 2007

Æons!


O tempo passa de formas interessantes. Talvez, cada æon nosso é realmente criado, vivido e destruido completamente. Pelo menos, é isso que eu percebo em meus Æons.

Vejo o meu æon de hoje.

Ainda sinto aquela vontade de Dragão Branco, mas já não é tão forte como antes.

Me sinto feliz, coisa que talvez, nunca havia me sentido sem ter do que me arrepender cinco minutos depois.

Depois de algum tempo fora da Chemical-Gnosis, meu campo de percepção está tão mais abrangente que ainda me sinto perdido dentro dele.

Cada pessoa estranah que passava por mim, eram apenas um amontoado de pedaços de carne industrializada pela sociedade. Estranhos "estranhos".....

Hoje eu os percebo de uma forma diferente... Cada pessoa que atinge meu campo de percepção é como uma conhecida, como se eu, am algum lugar-tempo, já tivesse dito algum tipo de acesso ou aproximação com elas.. Como se todas fizessem parte de mim. Já não as repudio mais, as vejo como uma pequena fagulha de conexão minha, como se eu fosse um todo, observando as minhas partes independentes a agirem em conjunto em um unverso de probabilidades infinitas e casuais.

Hoje consigo ver a beleza nisso. Ver a beleza em quase tudo que me é acessado.

Já não sinto mais a falta das pessoas, elas estão em mim.

Agora sei o que buscar e não é mais o amor humano, nem posses humanas, resumindo...Algo além, ao qual, eu pude vislumbrar por um momento muito grande dentro da minha experiencia com Chemical-Gnosis, mas não podia acessa pelo estado completamente alterado de consciencia.

Talvez um Nirvana Definitivo? Um Dzogchen?

Espero que não....Tenho muito ainda para percorrer antes de dizer:

"Minha Jornada chegou ao fim..."

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Brilho Eterno.

Como é feliz o destino
De um inocente sem culpa
Em um mundo em esquecimento
Por um mundo esquecido.
Brilho Eterno
De uma mente sem lembranças
Onde cada dor é aceita
E cada desejo, renunciado!

sábado, 13 de outubro de 2007

Nostalgia

O último feito possível é aquele que define a percepção em si, um invisível cordão dourado que nos conecta: dança ilegal nos corredores do tribunal. Se eu te beijasse aqui eles chamariam isso de ato de terrorismo: vamos então levar nossas pistolas para a cama & acordar a cidade à meia-noite, como bandidos bêbados celebrando com uma fuzilaria a mensagem do gosto do caos.

domingo, 23 de setembro de 2007

Devaneios.

Delirios & Devaneios;
Sonhos & Ilusões;
Amores & Fantasias.
As vezes eu sonho e sonho alto.
Eu só tenho uma igreja
E seu nome é Solidão.
Nela eu Rezo, Confesso meus pecados
E Alcanço meu perdão.
A Solidão dói e dilareca a alma.
Mas Sempre trás devolta a Razão!

sábado, 22 de setembro de 2007

Crianças Selvagens


Capítulo de"Caos, os Panfletos do Anarquismo Ontológico



O INSONDÁVEL CAMINHO LUMINOSO da lua cheia — meia-noite em meio a Maio em algum Estado que começa com "I", tão bidimensional que dificilmente pode-se dizer que possui alguma geografia — os raios tão prementes & tangíveis que precisas traçar as nuances para pensar com palavras.
Está fora de questão escrever para as Crianças Selvagens. Elas pensam em imagens — para eles a prosa é um código ainda não completamente digerido & ossificado, assim como nunca é completamente confiável para nós.
Podes escrever sobre eles, para que outros que perderam a cadeia prateada possam seguir adiante. Ou escrever por eles, fazendo da ESTÓRIA & do EMBLEMA um processo de sedução dentro de tuas próprias memórias paleolíticas, um bárbaro engodo para a liberdade (caos como o CAOS o entende).
Para esta espécie do outro mundo, ou "terceiro sexo", les enfants sauvages, a fantasia & a Imaginação ainda permanecem indiferenciadas. Um BRINCAR desenfreado: ao único & mesmo tempo a fonte de nossa Arte & de todos os mais raros eros da raça.
Abraçar a desordem como manancial de estilo & depósito voluptuoso, ponto fundamental de nossa civilização alienígena & oculta, nossa estética conspiratória, nossa espionagem lunática — esta é a ação (vamos encarar os fatos) tanto de um artista de qualquer tipo como de alguém de dez ou treze anos de idade.
Crianças cujos sentidos clarificados lhes revela uma brilhante feitiçaria de lindo prazer que reflete algo ferino & obsceno na natureza da própria realidade: anarquistas ontológicos naturais, anjos do caos — seus gestos & odores corporais espalham a seu redor uma floresta de presença, uma completa hiléia de presciência com cobras, armas ninja, tartarugas, xamanismo futurista, incrível bagunça, mijo, fantasmas, luz do sol, punheta, ovos & ninhos de aves — agressão exultante contra os adultos ranzinzas daqueles Planos Inferiores tão impotentes para englobar tanto epifanias destrutivas quanto criações sob a forma de extravagâncias, frágeis mas suficientemente afiados para fatiar o luar.
E ainda assim os habitantes destas dimensões inferiores de águas revoltas realmente acreditam que controlam os destinos das Crianças Selvagens — & cá em baixo, tais crenças nocivas efetivamente esculpem a maior parte da substância do cotidiano.
Os únicos que realmente desejam compartilhar o destino daninho daqueles fugitivos selvagens ou guerrilhas menores ao invés de ditá-las, os únicos que podem entender que acalentar & desatrelar são o mesmo ato — estes são em sua maioria artistas, anarquistas, pervertidos, hereges, um bando à parte (tanto um do outro quanto do mundo), ou capazes de se encontrar apenas como devem crianças selvagens, cravando olhares atentos através de uma mesa de jantar enquanto os adultos tagarelam por detrás de suas máscaras.
Muito jovens para estarem em uma gangue de motoqueiros —fracassados, dançarinos de rua, poetas escassamente pubescentes de cidadezinhas planas e perdidas — um milhão de fagulhas caindo dos foguetes de Rimbaud & Mogli — esguios terroristas cujas bombas espalhafatosas são condensadas de amor polimórfico & dos preciosos quinhões de cultura popular — pistoleiros punks sonhando em furar suas orelhas, ciclistas animistas deslizando na penumbra de estanho através de ruas ponteadas por flores acidentais — nudistas ciganos fora de temporada, sorridentes e dissimulados ladrões de totems de poder, escassos trocados & facas com lâmina de pantera — nós os sentimos em todos os lugares — nós publicamos esta oferta para negociar a corrupção de nossa própria lux et gaudium por sua perfeita torpeza gentil.
Então entenda: nossa realização e nossa liberação dependem da deles — não porque nós arremedamos a Família, aqueles "avarentos de amor" que mantêm reféns para um futuro banal, nem o Estado que nos educa para afundar sob o horizonte de eventos de uma "utilidade" tediosa — Não — mas porque nós & eles, os selvagens, somos imagens uns dos outros, unidos & confinados por aquela cadeia prateada que define o âmbito da sensualidade, da transgressão & da visão.
Dividimos os mesmos inimigos & nossos meios de fuga triunfante são também os mesmos: um jogo delirante e obssessivo, fortalecido pelo brilho espectral dos lobos & suas crianças.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Re-loaded?



Este trecho fechou a minha noite. Uma conversa tão simples e tão descontraida de trouxe novamente um sentimento de ......... de algo que ainda não sei definir.


"Não há transformação, nem revolução, nem luta, nem caminho; já és o monarca de tua própria pele — tua liberdade inviolável espera para ser completada apenas pelo amor de outros monarcas: uma política de sonho, urgente como o azul do céu."


Talvez...

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Iconoclastas, Avante!


Historia, materialismo, monismo, positivismo e todos os "ismos" deste mundo são ferramentas velhas e enferrujadas que já não preciso e com as quais já não me preocupo mais.

Meu prinicpio é a vida, meu fim é a morte. Gostaria de viver a minha vida intensamente para poder abraçar a minha morte tragicamente.

Você está esperando pela revolução? A minha começou a muito tempo atrás. Quando você estará preparado? [Que espera sem fim!!!!!].Não me importo que me acompanhe, mas quando você parar eu prosseguirei em meu caminho insano e triunfal em direção a grande e sublime conquista do NADA!

Qulauqer sociedade que você construir terá seus limites. E para além dos limites de qualquer sociedade, os desregrados e heróicos vagabundos, crianças selvagens, vagarão com seus pensamentos insanos e virgens, aqueles que não podem viver sem constantemente planejar novas e terriveis rebeliões, atos de terrorismo poético. Talvez um Armagedom por semana.

Quero estar entre eles!

E atrás de mim, como na minha frente estarão aqueles dizendo a seus companheiros voltarem a si mesmos em vez de aos seus deuses ou idolos. Descubra o que existe em vocês, traga-o a Lux!,mostre-se!

Porque toda pessoa que procura por sua interioridade, descobre que estava miseravelmente escondido dentro de si, uma sombra eclipsando qualquer forma de sociedade que possa existir so o Sol.

Todas as sociedades tremem quando a desdenhosaaristrocacia dos vagabundos, dos inacessiveis, das crianças selvagens, dos que governam sobre um ideal e dos conquistadores do NADA, avança ressolutamente.

Iconoclastas, Avante!!!


O Céu em presentimento já torna-se escuro e silencioso!

domingo, 8 de julho de 2007

Blind


Hoje, um dia perdido no tempo.

Os acontecimentos me empurram a uma direção.

Sinto falta de uma pessoa, que está aqui, mas não está.

Coisas e coisas e mais coisas.

As vezes a ignorancia é uma benção.

As vezes quero me render... Mas me render a que?

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Dzogchen!


(...)Todas as grandes coisas perecem por si mesmas, levantando-se a si mesma, assim deseja KIA, a lei necessária - Vitória sobre si mesmo - que faz parte da essência da vida. Compreende-me? Auto superação da auto crença por voracidade, auto superação do ego, pelo seu contrário! O que?!? Voces ainda precisam de um teatrinho? São assim tão imaturos? Use a inteligencia e procure a tragédia e a comédia, lá onde elas são bem representadas! Onde tudo passa de maneira mais interessante e mais interessada (Fator importante, Interesse-se apenas por aquilo que se interrese por vc.). É verdade que não é nada fácil nela permanecer um mero expectador, mas aprenda a faze-lo. Aí, então, em quase todas as situações difíceis e penosas, vc conservará uma pequena porta para a alegria e um refúgio, mesmo quando as suas paixões desabarem sobre vc. A audácia e a liberdade de sentimento diante de um poderoso inimigo, diante de uma adversidade sublime ou de um sentimento aterrorizante é tal estado triunfante que o artista mágicko elege, que ele glorifica. Diante do espetáculo da tragédia é que o elemento guerreiro de nossa alma celebra suas batalhas. Praticamente, em todos os lugares, é a loucura que abre caminho para o novo pensamento, que rompe o interdito de um costume de um paradigma respeitado. Para todos os homens superiores que foram irresistivelmente atirados a romper o julgo de um paradigma qualquer e a instaurar novas leis, não restou nada mais a ouvir do que: "Se não eram realmente loucos","enlouqueceram","são dementes"," Não possuem carater suficiente". O homem é uma corda, atada entre o animal e o sobre humano; uma corda sobre um abismo que é grande no homem. Mas ele é uma ponte e não um fim. O que pode ser amado no homem é que ele é uma passagem e um acaso. Não é apenas nos poetas e em seus belos sentimentos líricos que eu tendo a extravasar com a minha malícia (Sim, sou malícioso no que escrevo, quase sempre! Mas sou homem o suficiente para admitir isso!). Quem sabe que tipo de vítima eu procuro, que mosntro de assunto paródico me exitará em breve? Incipit Tragoedia! - Cuidado, inclusive eu mesmo! Algo essencialmente mau e sinistro se anuncia - Incipit parodia - Não resta a menor dúvida! (...)

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Psiconautas!


O que sou? Um advinho? Um tolo? Um sonhador? Bebado? Um sino da Meia-Noite? Uma gota de Orvalho, um vapor e um perfume de eternidade. Não ouviram??? Não sentiram o aroma??? Meu mundo acaba de se consumar, meia-noite é também meio-dia. A Dor é também Amor, a Maldição é também Benção, a Noite é também um Sol. Vai embora ou aprenda: Um sábio é também um parvo! Disse sim ao Amor? Meu amigo, então disse sim também à Dor. Todas as coisas estão encadeadas, enoveladas, enamoradas. Quiseste uma, duas vezes, falou alguma vez "Eu te Amo?" Vem, instante! Então quiseste tudo e todo e novamente. Tudo de novo, tudo eternamente, tudo encadeado, enovelado, enamorado, então nós amamos o mundo! Nós, Eternos, amamos eternamente e a todo o tempo. E também para a Dor falamos: "Vá embora, mas retorne." Pois todo Amor e Dor quer - Eternidade! Todo Amor e Dor quer de todas as coisas a eternidade, quer mel, quer bêbada meia-noite, quer covas, quer o consolo das lágrimas das covas, quer o dourado acaso. O que não quer o Amor? Ele é sequioso, tem o prazer, é mais faminto, é mais pavoroso, mais secreto que toda Dor, ele se quer e morre em si. Ele quer prazer, ele quer ódio, ele é riquíssimo, dá, atira fora, mendiga que alguém o tome, agradece ao que o toma, ele quer ser odiado e é morto por aquele que ele ama. Tão rico é o Amor, que tem sede de Dor, de Inferno, De Ódio, de Injúria, de Aleijo, de Mundo! Mundo... Este nós conhecemos! Psiconautas! Por nós ele anseia, o Amor irrefreado, Venturoso! Por nossa Dor, Malogrados! Ansiamos o Amor. Ansiamos a Dor. Ansiamos a Potência Eterna! Todo Amor quer a si próprio. Por isso quer também o sofrimento de coração. Felicidade & Dor. O Amor quer de todas as coisas a Eternidade! Que profunda...Profunda Eternidade!

domingo, 17 de junho de 2007

Hierofante!


Estou aqui, condenado por todas as decisões e indecisões, triângulo vermelho aminha frente.Enquanto prisioneiro em uma jaula branca artificial preenchida por dispositivoseletrônicos, inundo meus neurônios com toneladas de informação industrializada:lixo conceptual. Busco uma peculiaridade, uma brecha percentual num mar caótico,uma idiossincrasia que possa explorar e que guie ao êxtase, invariavelmentereligioso, invariavelmente sexual, nesse nível. Busco a pedra filosofal e amedicina dos metais. Sou um bruxo urbano, um xamã cibernético.Desisti das armas e da competição com os macacos pelados a muito tempo. Mantenhoo palavreado enigmático e a estética sinistra como que para sinalizar, não paraconfundir ou assustar. Busco minha brecha criando o Caos e seguindo alguns doscaminhos tenros que Ele cria, e que não existiriam em um milhão de mundossemelhantes a este.“Criar o caos” é apenas interagir com o mundo de forma criativa, singular. Ou,antes, é pensar o mundo de forma criativa e singular. O objetivo só pode serligar o cérebro com os genitais, ou o ideal com o real, a consciência com apercepção, o corpo com a alma. Casamento alquímico, ascensão da serpenteKundalini. A fertilidade, energia da criação circulando pelo corpo, circula peloambiente, é exibida na arte, e como o sol, cega e maravilha quem está por perto.“Religare”, fazer sua a vontade de deus. Chamo o meu de Falo, Sol, Serpente,Self, DNA, partícula-onda ou o que me apetecer.Por isso talvez o desejo de ter um filho seja idêntico ao desejo de explorar oespaço. Espalhar vida pelo universo é certamente o nosso destino, enquanto raçahumana. Todo sexo e toda a morte que aconteceram neste planeta serviram comopassos no acelerar desse processo, comandado por Nosso Senhor. Não passo de umabolha na Coca-Cola de Brahma, mas isto não diminui meu serviço ou meu êxtase.Por outro lado, cada ato que realizo não passa de uma bolha a meu serviço, cadaum repleto de significado, cada um absolutamente inútil. Que trabalhem por mimcom o mesmo prazer que trabalho pelo refresco de Brahma!Prego o que sei por paradoxos. Sou desconfortável, sádico. Não se acorda umbêbado preguiçoso com carinhos, não se desperta curiosidade com fés. É fácil sertomado por um estrangeiro cuja língua ninguém conhece. Me reverenciam comoreverenciariam um lama, um hippie deslocado ou uma biblioteca de hospício. Massou apenas um processo aleatório, como todos os processos naturais. A únicadiferença entre mim e os macacos pelados é que eu sigo os fractais caóticos douniverso, e eles seguem algum organograma arbitrário.No passado nos dirigíamos as massas, assumíamos a postura de mestre, guru, Papa,“aquele que sabe mais”. Agora agimos por sutilezas, somos subliminares, usamosnovas mídias. A era dos pastores televisivos foi o canto podre de um cisnecaduco, a pregação em massa. Tocamos apenas aqueles que nos amam. Nosso campo deação depende de nosso carisma.Ontem vi um mendigo na rua e ele parecia saber. Sou contra a caridade, mas lhedei uma moeda. Ninguém discute os desígnios do Caos. Ele tinha a natureza deBuda.

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Pelo fim das certezas...




...E o advento da ignorância, urge a entrega ao vazio. Nada em excesso! Cada vez mais Nada, pelo fim do jugo da razão! Respire fundo, vai ser preciso: vamos falar dos Bebês do Abismo. Um bebê? Um bebê? Inocentes criaturas rechonchudas moldando a massa bruta dos devires, hesitantes senhores das marionetes. Queres razão? Queres fé? Dance com os mutantes, dance! Crie, destrua, divirta-se, goze no Vácuo da sopa caótica. Deleite-se com o simples prazer do 'Não'. Estamos aqui como um pelotão de fuzilamento que não tem munição e como o condenado que prefere não ver seu último desejo atendido. Somos pela criação de mundos contra a realidade consensual, pela ociosidade criativa contra o esforço estéril, pela incerteza contra a segurança, pela doença venérea contra o ataque cardíaco, pela bobagem contra a coerência, contra a ganância pela mendicância, e assim por diante, porque isto já está cansando. Jesus se matou. (Todos nós, deuses sacrificados, sabemos do que falo.) Quem quer que já tenha tido um orgasmo sabe que a morte é nossa única amiga. Mas não se deve irritá-la, já que a dama pode te fazer viver & sofrer infinitas outras vidas, e muita lenga-lenga entre elas, até o próximo orgasmo. (Será que pode mesmo?) "Todo êxtase é fugidio, todo prazer ilusão." Que belo Buda que nos destes, Senhor. Nem podemos nos contentar com umas mentirinhas inofensivas e com alguma fé idiota (e há fé que não o seja?) que nos deixe pastando felizes e completos? (Completos... A compleição será mais do que a felicidade?) Sou apenas mais um que pensa, e por pensar pensa que pensa o que pensa pensar. (Ao estilo de uma poesia de Pessoa eu penso ser uma pessoa que pensa como Pessoa - mas eu não passo de um heterônimo mal criado.)

sexta-feira, 25 de maio de 2007

Nêmesis!




Através dos portões assombrados do sono para além do noturno abismo, tenebroso tenho
vivido minhas vidas incontáveis e sondando com a vista a multidão das coisas;
e me debato e grito antes do amanhecer,
enlouquecido pelo medo.
Rodopiei com a terra em seu alvorecer,quando o céu era só uma poeira de fogo;
e vi o bocejar do sombrio universo,por onde giram sem propósito os planetas,
por onde giram num terror que ninguém ouve,sem consciencia, brilho ou nome.
Tenho vogado sobre mars infinitos,sob uns sinistros céus que as nuvens enegrecem;
que fende, a serpentear, o raio coruscante,e que ressoam com os histéricos lamentos,
com os gemidos de dêmonios invisiveis,que se elevam das águas verdes.
Como um cervo, atirei-me através das arcadas,
do bosque primordial, vetusto e esbranquiçado,onde o carvalho sente a presença que marcha,
pisnado um solo onde ninguém ousou a pisar;
e fujo de uma coisa estranha que me envolvee olha, lá do alto, de entre os galhos.
Perambulei pelas montanhas cavernosasque se erguem da planice, estéreis e desertas.
Bebi da fontes cujo odor era o do sapo,que fluem lentamente até o pantano e o oceano;
e em lagos quentes e malditos vi coisasque nunca mais quero rever.
Vasculhei o palácio encoberto pela hera,atravessei o seu vestíbulo deserto,
onde a Lua que sobe e avança sobre os valesexibe as formas dos tapetes das paredes,
estranhas formas, que o delírio entreteu,as quais não lembro sem tremer.
Espiei através das folhas das janelaspara as florestas decadentes ao redor,
para essa aldeia cujos tetos numerosossofrem a maldição de um solo tumular;
e de entre o mármore entalhado das colunasescuto, à espreita de algum som.
As tumbas frequentei das eras infinitas.
Nas asas do pavor, voei as regiõesonde arrota fumaça do Érebo,
e ao longe surgemmontes que a neve encobre, enevoados e lugubres;
e aos reinos onde o sol de deserto consomeo que jamais há de alegrar.
Eu era velho quando os faraós ocupavamseu opulento trono às margens do amplo Nilo;
eu era velho já nessas pristinas eras,quendo eu, e somente eu, fui vil;
e o Homem ainda,em bem aventurança, imáculo, habitava a ilha do Ártico longinquo.
Oh, grande foi de meu espírito o pecado,
e de sua sentença o alcance imorredouro;não pode redimi-lo a clemência do Céu,
nem sua falta ser aplacada no túmulo:
Vêm batendo através dos éons infinitosas asas da impiedos treva.
Através dos portões assombrados do sonopara além do noturno abismo,
tenebroso tenho vivido minhas vidas incontáveise sondando com a vista a multidão das coisas;
e me debato e grito antes que o que nasça,
enlouquecido pelo medo.

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Embreagado pelo Perfume das Flores.


§ O navio da humanidade tem, ao que se julga, um calado [distância entre o ponto de flutuação e a quilha da embarcação] sempre maior, quanto mais carregado for, quanto maior, acredita-se que mais profundo é o pensamento do homem, tanto mais seu sentimento é terno, que quanto maior estima tiver de si próprio, tanto maior será o seu afastamento dos outros animais, que quanto mais ele aparecer como gênio entre os animais, tanto mais se aproxima da essência real do mundo e de seu conhecimento, mas julga faze-lo por meio de suas religiões e de suas artes. Estas foram, em verdade, uma floração do mundo, mas que não está de modo algum, mais próximo da raiz do mundo. Não se pode, de modo algum tirar delas uma melhor compreensão da essência das coisas, embora quase todos acreditem que sim. O Erro! O erro tornou o homem tão profundo, tão sensível, tão criativo, que produziu uma flor tal como são as religiões e as artes. O conhecimento puro não teria tido condições de faze-lo. - Quem desvenda-se a essência do mundo nos daria a todos a mais desagradável desilusão. Não é o mundo como coisa em si, mas o mundo como noção [Erro], que é tão rico de sentimento, tão profundo, tão maravilhoso, trazendo em seu seio a felicidade e a infelicidade. Esse resultado leva a um conceito da "negação lógica do mundo", a qual de resto, tanto pode conciliar com uma afirmação prática do mundo como o seu contrário.

quarta-feira, 2 de maio de 2007

Consciência Última!



De E.P.

O termo "consciência convencional" diz respeito a exatamente o quê? Há uma consciência última em oposição a ela? O que as diferenciaria?Alan Wallace quando esteve no Brasil falou em três: consciência grosseira, consciência sutil e consciência última.A consciência grosseira é a nossa identificação com os sentidos físicos e os pensamentos e emoções. É ela que produz, na sua confusão, a noção de um "eu". Ela possui uma continuidade extremamente restrita.A consciência sutil são os padrões cármicos arraigados que produzem consciências grosseiras vida após vida. Sua continuidade é maior, mas não ilimitada.A consciência última é o aspecto luminoso da vacuidade. Quando se diz "vazio é forma" está se referindo a isso, ou também quando se diz que o dharmakaya é prenhe de todas as possibilidades.A disputa entre as escolas se resume em quatro posições:1) Visto que é possível transformar esta terceira consciência num objeto e reificá-lo, algumas formas de budismo se apegam ao antídoto e produzem uma negação quanto a esse conceito.2) De uma forma um pouco mais sofisticada, algumas tradições afirmam coisas tais como "natureza de buda", etc. Isso equivale a praticar de forma não-causal e abandonar a noção de um resultado, já que o resultado está presente desde o "princípio sem princípio".3) A posição de Nagarjuna como interpretada por Chandrakirti, porém, não cai em nenhum extremo de afirmação ou negação, e apenas revela esta natureza através de "domar tudo a ser domado", mostrando o equívoco na manutenção de qualquer fixação a doutrinas.4) A partir da posição de Nagarjuna, todas as diferentes doutrinas surgem como meios hábeis a serem utilizados em relação a necessidade dos seres. Assim, como não há antídoto a ser aplicado ou aperfeiçoamento a fazer, nada é desperdiçado.Encontraremos por todo lado praticantes e professores do dharma mais ou menos fixados em qualquer uma das quatro formas, seja por ação compassiva de ensinar aquilo que os seres precisam e não o que ainda não são capazes de entender, seja porque eles ainda mantém fixações a teorias e sustentam suas opiniões. Creio que é noção comum que o próprio Buda ensinou das quatro formas simultaneamente, mas como não somos oniscientes, em geral surge um carma de preferência e a necessidade de defender idéias desse ou daquele tipo e aplicar antídotos.
...Nesse âmbito, tudo soa nonsense. Quando nos referimos a "mente", estamos falando dela como um objeto, mas a mente "última" é a fonte de sujeito e objeto, ou ainda, a coemergência de sujeito e objeto, e em nada difere da própria vacuidade.Porém, até mesmo "vacuidade" pode se tornar um ponto de fixação. Algumas professores até mesmo dizem que um sutra como o Prajnaparamita ainda revela uma leve tendência niilista, apesar do "vazio é forma, forma é vazio". Eu discordo deles, porém a questão da luminosidade do vazio só vai ficar realmente clara em textos tais como o Uttaratantra de Maitreya.De uma forma mais simples, se pode dizer apenas que todos os conceitos são meios hábeis, e não pode haver um conceito cujo sentido em si seja o entendimento ou realização daquilo que nos interessa, o dharma. Quer dizer, o vajrayana brinca com isso através do próprio termo "vajra" — mas isso é um meio hábil que algumas pessoas de bom mérito podem usufruir, não é meu caso.Em certo sentido, vajra, mente última, vacuidade, natureza de buda, perfeição da sabedoria, grande perfeição, nirvana, dharmakaya, etc — embora não sejam a mesma coisa, referem-se a mesma coisa1, a qual não pode ser perfeitamente adequada a qualquer conceito.E é claro, se quisermos ir mais longe, em outras tradições religiosas, por exemplo, com certeza encontramos muito mais palavras. É muito importante que não achemos que prática espiritual é ficar descobrindo novas palavras e novas conexões entre as palavras. Descobrir que Fulano é outro nome para Beltrano não diz nada a respeito de conhecer a pessoa, chamemos ela de Fulano ou Beltrano.Há uma natureza última da consciência a ser conhecida e/ou realizada ou uma consciência última?As duas perspectivas existem, as duas não são definitivas, a segunda é mais sofisticada que a primeira.A prática pode ocorrer de forma causal, em que buscamos algo, ou de forma não-causal, em que usufruimos de algo. A prática causal é feita com grande esforço, e leva um longo tempo. Em termos não-causais, ela pode ser sem esforço ou com esforço. A prática sem esforço é melhor, para aqueles que são capazes dela. Para pessoas como eu, porém, isso são só palavras a que eu me apego. Porém cabe sempre lembrar que enquanto houver a noção de que algo esteja acontecendo, sendo descoberto, realizado, ou que nos dê qualquer espécie de conforto ou segurança, devemos perceber que isso é apenas um sonho, e assim não nos vincularmos a nenhuma espécie de fenômeno particular. As teorias filosóficas, o chocolate e o sexo estão nessa categoria.

segunda-feira, 30 de abril de 2007

Quais as diferenças entre ilusão, delusão, e maya.


De E.P.
Particularmente creio que o assunto samsara é muito mais de acordo com os ensinamentos do Buda do que o assunto nirvana. É compreendendo e dissolvendo a complicação que nirvana se manifesta. Compreender e "construir um nirvana" não funciona."Ilusão" é quando existe uma realidade subjacente. Ou seja, falamos em ilusão quando há uma realidade em contraposição. Nesse sentido, embora seja um termo filosoficamente válido, tem uso restrito no escopo budista."Delusão" é um termo muito mais sofisticado. A filosofia de Wittgenstein popularizou o sentido com que os budistas a utilizam no ocidente, muito embora alguns tradutores para o português ainda traduzam "delusion" como "ilusão". Delusão é um engano particular da cognição, não algo que não exista em contraposição a algo que exista, como no caso da ilusão.O termo exato em sânscrito é "avidya", literalmente "não-visão", "cegueira". Muitas vezes esse termo é traduzido como "ignorância", mas isto também não ajuda muito a entender do que se trata.Avidya é o primeiro elo entre os doze da chamada "originação interdependente", o aro mais externo do desenho da roda, ele é o "pecado original" em termos de budismo. Ainda assim, não há conceito que possa ser maniqueistamente demonizado no budismo. A ignorância só é possível devido a liberdade primordial. Lama Samten gosta de dizer que "se a natureza ilimitada não se manifestasse de forma limitada ela não seria realmente ilimitada, pois teria a limitação de não manifestar-se limitadamente." (ufa!)Bem, como opera a delusão? Quando nos fixamos numa forma, não percebemos outras formas - surge um processo de escolha automático, diríamos "inconsciente", mas essa não é uma palavra da tradição budista. É uma escolha e uma separatividade, uma discriminação primordial. Então ao olharmos para um cubo simples desenhado no papel com traços, mostramos nosso processo delusório ao atribuir uma tridimensionalidade a algo que é apenas papel e tinta. Então nomeamos os vertices A e B,...continua abaixo...

Percebemos que se colocamos o vértice A na "frente", o vértice B surge "atrás". Mas facilmente podemos inverter o processo, colocando B na "frente" e A "atrás". O fato de vermos um cubo onde só há linhas, e enfim um tubo que emite elétrons, é uma delusão simples. Mas podemos ver que uma delusão "cega" outras possibilidades observando os vértices, se A e B estão juntos no mesmo plano, perdemos a delusão da tridimensionalidade do cubo. Se A está na frente, e percebemos a tridimensionalidade, B naturalmente vai estar atrás - ou vice-versa perdemos o vértice oposto. Ao vermos isso dessa forma, estamos "cegos" para outras possibilidades. Este é o processo de delusão.Então a delusão é a maravilha que nos permite operar a discriminação dos fenômenos, e ao mesmo tempo é a desgraça de estarmos cegos a uns enquanto fascinados por outros.Se existe uma atenção quanto a liberdade presente nas operações mentais delusivas, e simultaneamente a consciência de uma liberdade além das delusões, essa é uma realização verdadeiramente espiritual.É importante perceber que a delusão não opera a nível intelectual ou emocional, opera a nível cognitivo. Por isso não adianta saber que o "eu" não existe inerentemente — é preciso penetrar na operação dessa delusão e percebê-la em funcionamento. Daí não geramos apego ou aversão, medo ou fascínio por esse "eu", apenas rimos e usufruímos a delusão como ela é, sem nos enganar.É importante entender a diferença entre esses termos porque se dizemos que a dor é ilusória, isso é equivocado, já que ela é uma "ilusão real" para quem a sofre. Então a palavra "ilusão" encontra significados filosóficos indesejados nesse estilo. Já "delusão" explicita que é um engano meramente da experiência cognitiva."Maya" é uma palavra geralmente ligada a ilusão, e como há tradições não entendem efetivamente o processo da delusão, colocando uma realidade inerente em maya ou samsara, as vezes essa tradução seja correta fora do escopo budista — ou do mahayana pelo menos. A raiz do samsara e de maya como sinônimo de samsara é a delusão. Portanto não existe um samsara em si, apenas uma experiência de samsara ou uma percepção de samsara. Esse conhecimento é muito liberador, é a terceira nobre verdade que o Buda ensinou. (1. Há sofrimento; 2 - Este sofrimento é causado por delusão e seus filhos: marcas, carma, aflições, venenos, perturbações, nascimento e morte, "eu", etc; 3 - Já que há uma causa, o sofrimento pode ser eliminado; 4 - Há um caminho de oito passos para a eliminação do sofrimento.)"Samsara" está numa categoria filosófica além dos extremos de ilusão e realidade, por isso o termo delusão é tão precioso, indicando que samsara é real, mas apenas do ponto de vista da mente confusa — não é uma realidade absoluta. Se dizemos que samsara é uma mera "ilusão", isso pode nos levar a crer que não é real sequer de uma forma relativa, e por isso as pessoas podem dar de cara na parede, dizendo que ela é uma "ilusão" e não é sólida. Isso pode levar também a crer que o samsara seja inescapável, porque afinal, ele, dito assim, existe de uma forma inerente. Esses dois extremos são heresias do ponto de vista budista. De fato o carma e todo o processo causal surgem no processo de delusão. Eventualmente na medida que o ser acredita-se separado e funcionando como uma entidade independente, nessa mesma medida ele está sujeito ao carma a que se fixou. O sofrimento é tão ilusório quanto a noção da existência inerente, mas do ponto de vista de um ser que acredita neste tipo de existência - ainda, funciona automaticamente dentro desta existência inerente ilusória, espontaneamente atribuindo realidade a ela - o sofrimento é muito real.Assim, a única liberação possível é uma liberação não-causal, que salte além do processo delusivo primordial. Uma vez que esse processo primordial é de fato manifestação da própria luminosidade da mente, como já explicado acima, dizemos que a delusão primordial é o "não-reconhecimento da base", ou seja, o não-reconhecimento do estado de liberdade e o fascínio por estados particulares de desejo, forma e não-forma.As marcas ou cicatrizes que formam a ilusão de um fluxo de consciência afetado pelas sensações, emoções sutis e grosseiras, conceitos, e nascimento envelhecimento e morte. Como a fonte das marcas é a delusão, a única forma de superar o sofrimento de todas estas aflições é o reconhecimento da base. Miraculosamente, essa base tem uma manifestação luminosa na forma de energia ou compaixão, que são as aparências de samsara e nirvana. Esta é a morada do Tathagatha.Reconhecer a natureza livre de existência intrínseca dos fenômenos é a própria realização, e embora ela seja perfeitamente natural e permeie todas as esferas de compreensão, enquanto as delusões surgem, surgem as marcas e identidades que levam até o décimo segundo elo, que é o sofrimento do nascimento, envelhecimento e morte.É nesse sentido o Buda diz que "não veio e não foi", porque não estava preso a uma identidade criada pela concepção arbitrária de uma existência inerente particular e separativa presa a um âmbito espaço-temporal.

domingo, 29 de abril de 2007

Delusão


De E.P.


O que é exatamente a delusão?Talvez não seja tão necessário entender exatamente o que significa, mas sim perceber operando. É possível que achemos que saibamos o que seja, talvez tenhamos um significado pronto para um termo desses, mas tudo isto pode ser contraproducente — nos fixamos ao nosso conceito do que seja e impedimos que aquilo frutifique como prática.Estas palavras são mágicas, e isto num sentido muito profundo. Elas não são conceitos exatos, ou verdadeiros, ou técnicos (embora também não deixem de ser estas coisas), o que elas são principalmente é portas para a liberação. Essa palavra "delusão" é um guardião da sua mente, e você precisa se relacionar com ela como se fosse um cachorro feroz, prestes a morder você, mas que você gostaria ter como cão de guarda, a protegendo.Não é possível simplesmente passar a coleira para alguém: vai arrancar pedaços! É preciso que que a pessoa por si mesma faça amizade com ele, entenda seus sinais sutis, tenha por este cachorro uma espécie de devoção misturada com respeito. Então aos poucos o cachorro-delusão pode vir a ser seu protetor — e esse é dos protetores mais furiosos — vence morte, renascimento, sofrimento — qualquer coisa. Nomeie e o cachorro-delusão estraçalha.Por isso você não precisa saber como é esse cachorro, que tamanho ele tem, que cor e raça ele é. Você precisa ter este cachorro. Você precisa fazer amizade com ele. Como ele é muito bravo e esquivo, é preciso aproximar-se com cuidado máximo.Feita esta advertência, agora creio que não há problema em descrever o cachorro. Apenas espero que ele não nos morda enquanto faço isto!Quando ouvimos falar de delusão como a fonte de todos os problemas, imediatamente queremos achar um jeito de acabar com ela. Mas ela é a própria liberdade e a natureza criativa da mente. Em sanscrito, delusão é avidia. Avidia é Prajna (sabedoria) ao avesso. Avidia é o que impede Prajna, Prajna é o reconhecimento do que está além de Avidia, ou a liberdade em meio a avidia. Mas na verdade não são duas coisas, é apenas o mesmo cachorro atacando ou protegendo.Delusão tecnicamente é quando olhamos para uma coisa e esquecemos todas as outras. Ou seja, exatamente porque vemos, somos cegos. Exatamente porque um objeto surge, ignoramos todos os outros. Ela é a fonte das tendências cármicas, da identidade, das situações da vida e da morte. Quando olhamos uma paisagem pintada num quadro, temos emoções particulares, vemos um rio, árvores, etc. Mas ali há apenas papel e tinta. Esquecemos o papel e a tinta e reconhecemos rio, árvores, etc. Por isso a delusão é algo criativo, não apenas algo aprisionador.A delusão tem várias características: separatividade, teimosia, tempo e espaço, identidade, criatividade, cegueira, etc.Assim, como domamos este cachorro? Apenas nos perguntamos "como a mente se engana?" e obtemos uma resposta? É como um koan, uma pergunta com o objetivo de colocar a mente num estado tão inescapável que ela precisa transcender a si mesma. Como a mente se engana ao responder este koan? Como se engana ao não responder?Como a mente se engana? Se entendermos isto, estamos livres do engano, e o que surge é uma manifestação de criatividade. O cachorro é nosso amigo: até lhe damos comida, o levamos para passear e brincamos com ele. Nunca mais vai nos morder, ele sabe que não temos medo, ele tornou-se nosso amigo.Mas será que não vai mesmo? Como a mente se engana?Por exemplo, estamos tendo um pesadelo, um gorila está nos devorando. Acordamos gritando, suados. Cadê o gorila? Como a mente se engana?Perdemos pai e mãe num acidente de automóvel. Como a mente se engana?Temos câncer. Como a mente se engana?Você tem que dizer algo a seu amigo que perdeu a namorada. Como a mente se engana?Se entendemos como a mente se engana, aí podemos verdadeiramente acordar. Mas é preciso mais do que explicar o que é engano e o que é mente, é preciso reconhecer o engano ocorrendo, e brincar com ele.

O Amor Romântico - De E.P.



"Se duas pessoas se amam, não pode haver final feliz." Ernest Hemingway
O cínico poderia dizer que o amor romântico é uma invenção de Hollywood, mas estaria mais correto se retornasse à idade média. De fato, o amor romântico pode ser entendido como a primeira resposta que o homem comum encontrou para justificar o sexo frente ao que se conhece como repressão sexual cristã, e por conseqüência, a primeira e bela representação do sexo como experiência espiritual , no ocidente.
As pessoas que casavam por conveniência (o casamento foi criado para indicar a posse da fêmea e dos filhos - não existia antes da descoberta da relação do sexo com a reprodução), em toda a história, e por quase todas as culturas, começaram a aplicar os preceitos do espírito ao amor, esses preceitos sendo os do cristianismo. Assim, posição social ou diferença tribal não podia mais justificar um casamento : o homem que vivia em Cristo, casava por amor, e abandonaria tudo por amor, se fosse o caso. "Romeu e Julieta" é o ápice, sendo a troca da própria vida pelo amor romântico. Como todos sabemos, o dia-a-dia de Romeu e Julieta não seria só de rosas, o amor deles vem de uma idealização impossível na mente pagã. A idéia do príncipe encantado e da donzela virginal nasce aí .
Portanto que fique entendido que o amor aqui não é pela pessoa, mas pelo ideal da pessoa. Quem sabe manipular as máscaras sociais melhor, contém o relacionamento. O outro, que vai sentir dor-de-cotovelo no fim, é contido. Nessa armadilha sempre caem as pessoas que não estabelecem uma atitude emocional saudável no II circuito, que depende da auto-estima afirmada pelo I.
A armadilha sempre é a separação do sexo da amizade, e por fim a colocação do sexo como secundário em um relacionamento, o que é uma falácia, pois o sexo começa no primeiro flerte e não acaba até o último aceno. O que se entende por sexo sem amor é amor sem compromisso e casual , amor sem contrato e sem responsabilidade. Não é de admirar a hipocrisia de nossa sociedade, a existência de prostíbulos .
A monogamia deveria ser tratada como uma questão de preferência pessoal, a traição sendo uma quebra de contrato tácito entre pessoas de preferências diferentes com relação ao número de parceiros, sendo comum inclusive que o traidor nem entenda porque é diferente da regra tribal aceita . A hipocrisia de fato é um mecanismo repressor.
Existe, além disso, uma diferença biológica no que tange o sexo, e isso não pode ser ignorado na questão do amor: o macho tende a querer impregnar o maior número possível de fêmeas, a fêmea a escolher o melhor macho. As duas coisas são cruéis do ponto de vista Cristão, e ficam confusas do ponto de vista do homem como animal social. Mas a nível de II circuito a coisa é bem clara: a mulher que preenche o arquétipo da mãe para um homem o prende (ele vai ter a dor-de-cotovelo e os chifres de boi, corno manso), e o homem que preenche o arquétipo do pai para uma mulher geralmente o obtém pelo tamanho dos chifres (de touro). Esse homem geralmente responde mais ao impulso do falo do que o do ethos tribal, não há ideal de pai que o desafie.