Estou aqui, condenado por todas as decisões e indecisões, triângulo vermelho aminha frente.Enquanto prisioneiro em uma jaula branca artificial preenchida por dispositivoseletrônicos, inundo meus neurônios com toneladas de informação industrializada:lixo conceptual. Busco uma peculiaridade, uma brecha percentual num mar caótico,uma idiossincrasia que possa explorar e que guie ao êxtase, invariavelmentereligioso, invariavelmente sexual, nesse nível. Busco a pedra filosofal e amedicina dos metais. Sou um bruxo urbano, um xamã cibernético.Desisti das armas e da competição com os macacos pelados a muito tempo. Mantenhoo palavreado enigmático e a estética sinistra como que para sinalizar, não paraconfundir ou assustar. Busco minha brecha criando o Caos e seguindo alguns doscaminhos tenros que Ele cria, e que não existiriam em um milhão de mundossemelhantes a este.“Criar o caos” é apenas interagir com o mundo de forma criativa, singular. Ou,antes, é pensar o mundo de forma criativa e singular. O objetivo só pode serligar o cérebro com os genitais, ou o ideal com o real, a consciência com apercepção, o corpo com a alma. Casamento alquímico, ascensão da serpenteKundalini. A fertilidade, energia da criação circulando pelo corpo, circula peloambiente, é exibida na arte, e como o sol, cega e maravilha quem está por perto.“Religare”, fazer sua a vontade de deus. Chamo o meu de Falo, Sol, Serpente,Self, DNA, partícula-onda ou o que me apetecer.Por isso talvez o desejo de ter um filho seja idêntico ao desejo de explorar oespaço. Espalhar vida pelo universo é certamente o nosso destino, enquanto raçahumana. Todo sexo e toda a morte que aconteceram neste planeta serviram comopassos no acelerar desse processo, comandado por Nosso Senhor. Não passo de umabolha na Coca-Cola de Brahma, mas isto não diminui meu serviço ou meu êxtase.Por outro lado, cada ato que realizo não passa de uma bolha a meu serviço, cadaum repleto de significado, cada um absolutamente inútil. Que trabalhem por mimcom o mesmo prazer que trabalho pelo refresco de Brahma!Prego o que sei por paradoxos. Sou desconfortável, sádico. Não se acorda umbêbado preguiçoso com carinhos, não se desperta curiosidade com fés. É fácil sertomado por um estrangeiro cuja língua ninguém conhece. Me reverenciam comoreverenciariam um lama, um hippie deslocado ou uma biblioteca de hospício. Massou apenas um processo aleatório, como todos os processos naturais. A únicadiferença entre mim e os macacos pelados é que eu sigo os fractais caóticos douniverso, e eles seguem algum organograma arbitrário.No passado nos dirigíamos as massas, assumíamos a postura de mestre, guru, Papa,“aquele que sabe mais”. Agora agimos por sutilezas, somos subliminares, usamosnovas mídias. A era dos pastores televisivos foi o canto podre de um cisnecaduco, a pregação em massa. Tocamos apenas aqueles que nos amam. Nosso campo deação depende de nosso carisma.Ontem vi um mendigo na rua e ele parecia saber. Sou contra a caridade, mas lhedei uma moeda. Ninguém discute os desígnios do Caos. Ele tinha a natureza deBuda.
domingo, 17 de junho de 2007
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