domingo, 27 de setembro de 2009

DESMATERIALIZAÇÃO EMBRIAGADA DE DIONÍZIO COMO FORMA APOLÍNEA DE REALIDADE.

Século XXI, era tecnológica, todos os domínios do intelecto humano voltados à imprevisibilidade da nova era. O tempo não mais reflete a linearidade – antiga referência dos processos de transformação – agora está a serviço dos fluxos de informações, das redes e das conexões.

A sociedade conhece novas relações, se depara com o movimento e as intermináveis misturas onde todas as coisas se complementam e se embelezam. O tão esperado encontro de Apolo com Dionízío, profetizado há cem anos através dos delírios inspiradores de Nietzsche. A forma apolínea da sociedade tecnológica e cibernética se dá através das manifestações dionizíacas das desmaterializações, do caos, da desvalorização do orgânico, dos fluxos de informações em rede como ordem das relações. A música ganha outras referências, volta ao arcaico na medida em que a cada batida sampleada pela máquina, um som tribal de percussão nos leva a outras possibilidades de realidades.

As regras sociais a partir de agora ficam sob comando do acaso. Se no século XX as relações sociais estavam ligadas às instituições – familiar, religiosa, estatal – onde morais e bons costumes ditavam modos de sociabilidade, hoje em dia é o acaso o comandante dos encontros. Não mais se aproxima de uma pessoa por se trabalhar na mesma instituição, por ser da mesma família, ou por ter mesmas crenças religiosas; e sim pela capacidade de sermos afetados por intensidades emanadas de seres com semelhanças essenciais.

A convivência entre os seres humanos é potencializada pelo virtual , um universo de possibilidades e novas formas de atuação social torna-se realidade. A simulação , a multiplicidade de papéis desempenhados , a fragmentação do ego estampado em diversas relações que se manifestam simultaneamente no ciberespaço , leva a sociedade ao gozo de se poder experimentar múltiplas realidades.

Temos estampados diante de nossos olhos o novo, e desde que o novo é novo grande questões são geradas.

Durante os séculos do milênio passado todos os tipos de movimentos que impulsionaram transformações sociais tinham bases teóricas, onde intelectuais e artistas buscavam justificar o novo com críticas ao passado. Atualmente no que se refere à questões teóricas vivemos algo contraditório em relação às transformações sociais deste início de milênio; uma vez que produções teóricas sobre a nova sociedade cibernética pós moderna está voltada para a tentativa de se explicar o inexplicável, de se compreender o incompreensível, ou seja de se conceituar o caos inerente aos novos tempos. Não há tempo para formulações de críticas ao passado como recurso de justificativas do domínio da tecnologia, já que não estamos diante de um movimento e sim de uma transformação de nível evolutivo da própria espécie humana. O curioso disto tudo é que formulações teóricas com embasamento crítico existem também,mas não em relação ao passado, e sim aos novos valores que começam a povoar as relações ,às novas maneiras de se situar na realidade, ao início do domínio do desmaterializado território chamado ciberespaço no que diz respeito as relações e suas múltiplas formas de expressões.

A situação apresentada pelo cenário atual no contexto das produções teóricas de aspectos críticos em relação a sociedade pós –moderna, traz com ela ventos do receio, atmosfera de caráter medroso , uma vez que , ao nos depararmos com o domínio da tecnologia em todos os aspectos da vida planetária,fica claro que estamos diante de uma evolução da técnica - inerente a espécie humana – e que não há fundamento em se produzir conteúdos críticos utilizando referências passadas ,como meio de justificar as transformações que povoam os universos das relações sociais sob o impacto da tecnologia. Dessa vez é a natureza humana que se manifesta, expressando a desmaterialização embriagada de Dionízio como forma apolínea de realidade.

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