Roger estava fumando "um" com os amigos quando umpósitron que se formou emAndrômeda passou por seu córtex, causando uma série dereações nucleares,que acabaram se tornando bioquímicas, e passaram ainterferir nas moléculasdo THC.Não notou nada a princípio, e foi pra casa matar alarica com uma belalasanha. Todos já estavam dormindo, então resolveu irpara o quarto ver tevêcom a fôrma debaixo do braço. Estava passando uma dascontinuações doclássico da ficção científica "Planeta dos Macacos",uma que não havia vistoainda e se passava numa espécie de Guerra do Vietnã.Riu bastante com asaventuras nas quais aqueles gorilões se metiam e logocaiu no sono.No outro dia acordou e preparou-se para ir a aula..'.Roger abriu a porta da casa deu os primeiros passos,olhou a rua e sacudiu acabeça piscando os olhos: todos tinham cara de macaco!Se esquivou ligeiro de volta para casa e pensou umpouco sobre o assunto.Chegou a conclusão que deveria ser algum tipo deflashback do baseado,embora soubeste que um baseado nunca faria uma coisadessas.Aqui podemos fazer um pequeno adendo de cunhoesclarecedor: Roger morria demedo das drogas que considerava pesadas, e nunca ashavia experimentado.Mesmo o inócuo LSD era desconhecido e inacessível.[Era comum aos terráqueosdurante o séc. XX serem totalmente desinformados sobrequaisquer técnicas dealteração neurológicas, principalmente as referentes asubstâncias ou sexo.Apesar disso, vestígios arqueológicos indicam que osconhecimentos já haviamsido alcançados naquela época, mas eram mantidos emlivros deliberadamentecomplexos ou eram atacados por autoridades. Oocasional explorador não correriscos ao carregar suas jujubas, o caramelo não pareceter efeitopsicotrópico acentuado no homo sapiens (Trigueirão,Estudos do efeito docaramelo em 150 homo sapiens abduzidos), pois não évigiado pelasautoridades, e chega a ser vendido a crianças!(Lobsanga Rampa, Manual dosCães de Sírius para Exploração de CivilizaçõesPrimitivas e Planetas TipoM4, Cap. V.)]Olhou-se no espelho para ter certeza de que ele nãohavia sido afetado ecomeçou a duvidar do que tinha visto. Resolveu ir aaula com ou sem osmacacos.Caminhou pela rua desconfiado, observando asmacaquices a sua volta: umengravatado carregava feliz sua maletinha. Outro,fardado, aplicava multasnos carros parados. Uma, zangada, reclamava delas.Alguns faziam uma roda emtorno de um humano - Ah! eles ainda existem! - quetocava gaita por esmolas.O que havia feito de certos homens macacos? Nestemomento ele começou a termedo, apesar de ninguém perceber nada diferente nele.Encontrou Fábio no meio do caminho. Ele não era ummacaco, ufa! Comentou obaseado do dia anterior e recebeu uma resposta fria, oque era estranho:Fábio costumava ser bem mais fissurado do que ele.Fábio começou com um papoestranho de fazer vestibular para direito, e que abanda devia dar um tempo,que seus pais estavam pressionando e desconfiavam dealgo. Roger comentousobre os macacos e recebeu um suspiro de resposta:"Não viaja! Tá se vendoque isso faz mal...". Neste momento Roger notou acicatriz na pleura doamigo e ficou realmente com medo: talvez isso seja omal.Naquela altura Roger nem sabia de onde vinha aexpressão "bode expiatório" ea heresia gnóstica nem passava por sua cabeça. Masapesar disso ele jáestava condenado ao além do bem e do mal. Uma simplespartícula subatômicaque aleatoriamente pousou sobre um axônio tambémaleatoriamentesignificativo causou todo o desconforto.E se ele estivesse errado? Agora já duvidava dosconhecimentos daquela outrarealidade, de onde veio, onde macacos eram animais ehomens eram deuses.Passou pelo Cristo Redentor. Ele também estava comcara de macaco..'.Outro dia, fumando "um" sozinho, pensou nosespermatozóides. Quantodesperdício! Milhares deles morrendo para apenas umpenetrar no óvulo! Seconhecesse Darwin saberia do desperdício sangüinolentoque transformavarépteis em aves ou pitecantropos em homo sapiens.Porém os macacosprofessoresnão deixavam tempo livre para assuntos realmenteinteressantes,seguiam uma coisa chamada "currículo", onde osmacacos-mor haviam definido oque era importante aprender. Darwin estava lá, mas nãosobrava muito tempopara ele, já que em biologia a decoreba denomenclaturas era imprescindível,segundo eles.Roger nessa época nem imaginava o que o Olho naPirâmide significava, ou queainda existiam faraós e escravos.Andava muito mais cuidadoso agora, sabia que oslobotomizados setransformavam em macacos pouco tempo depois daoperação. Desconfiouprofundamente da maconha, e parou de usá-la por meses.Isso melhorou seudesempenho escolar, alegrando seus pais. Eles eramcultos e liberais e nãose importavam com os hábitos do filho. A coisa semprepermaneceu tácita, maso fato deles saberem não ia causar muito problema, eafinal de contas,talvez já soubessem. Ele não gostava de álcool, lhefazia mal. Apenas andavaum pouco preocupado com Fábio, que estava passando demacaco para gambá.Mas mesmo assim, andava nervoso. Estava sozinho. Nãose sentia mais humano,quer dizer, macaco, bolas! Não mais sabia. Se sentiamal ao ficar com asmeninas-macacos. Parecia bestialismo. Era bestialismo.Então conheceu Lia.Agora era ele que parecia um animal desajeitado. Elaapresentou muitosoutros seres humanos não-lobotomizados, perante osquais ele sentia-se umacriança. Ela mostrou a ele os escritos de um humanoprecoce, um talNietzsche, e lhe disse que ele havia ficado louco poisera um humano nummundo quase só de macacos. Ele costumava dizer: "Euensino a ti, homem. Omacaco é algo a ser superado". Lia lhe disse que naépoca ninguém entendeuisso, e que a frase depois foi inclusive usada comodesculpa em uma dasguerras de excrementos entre macacos, na qual umbabuíno bigodudo mandou umbando de chimpanzés para câmaras de gás baseando-se noque entendeu desseargumento.Segundo Lia os homens não deveriam mais defenderterritório com excrementosou armas, e sim convidar os outros para partilharem deseu mundo através desua arte. Ele achava utópico, mas gostava de convivercom sonhadores. Suamaior diversão passou a ser destruir as torresconceituais cercadas por umfosso com muitos jacarés que muita gente gosta deostentar..'.Um dia sonhou com uma velhinha tirando um gato de cimauma árvore. Avelhinha as vezes parecia Lia, as vezes Bast, a deusaegípcia com rosto degato. O gato parecia Nietzsche, mas era ele também.Acordou, abriu os olhose viu um triângulo vermelho na tela de seu computador."
Mas em que inferno de realidade fui cair?"
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